18/05/2011

A respeito do consumo de cocaína no Brasil, diretamente ou via crack e oxi, há pelo menos duas certezas: a) o governo federal continua achando que o problema não é tão grave;  b) seguirá fingindo que vai enfrentá-lo.

Essas certezas são asseguradas pela própria Secretaria Nacional Antidrogas – SENAD, cuja titular deu ontem entrevista à Folha. A dose de insensatez por centímetro de texto é das mais elevadas dos últimos tempos, o que não é pouco dizer. Entre outras coisas, ela se manifesta contra as clínicas de internação e tratamento de dependentes químicos (posição tradicional do PT), minimiza o impacto da cocaína e seus derivados na população brasileira, ameniza seus efeitos sobre a saúde das pessoas, e anuncia que “o governo está investindo no patrulhamento das fronteiras” por onde entra a droga. Maravilha.

Só que o governo atual está desinvestindo no já precário patrulhamento das fronteiras, como apontei em dois textos – umdeste site e outro no Estadão. O próprio ministério da Saúde estima em 600 mil o número de usuários do crack no Brasil. Apenas em São Paulo, e de janeiro a abril deste ano, a polícia estadual apreendeu cerca de 4,3 toneladas de cocaína e crack.

A coisa menos insensata que decorre da entrevista é a demonstração de que o programa do governo federal de combate ao crack, anunciado melodramática e enfaticamente durante a campanha eleitoral, nunca saiu nem vai sair do papel ou das telas da propaganda televisiva.

Como consolo para quem leu a entrevista feita pela Folha, sugiro a leitura do excelente artigo do Roberto Pompeu na revista Piauí deste mês: Do Outro Lado da Lua. Ele fala do trabalho de duas clínicas de recuperação de dependentes químicos em São Paulo, uma do Estado, que inaugurei como governador, e outra do município (instalada num antigo motel), iniciativa que decorreu da nossa política de prevenção e assistência aos dependentes de drogas.