Nesta quinta-feira, 11 de agosto, a sociedade brasileira se une e se insurge em defesa do Brasil. Uma vez mais.

José Serra, O Estado de S.Paulo
11 de agosto de 2022 | 03h00

A história do Brasil é repleta de turbulências. Talvez tenhamos vivido mais de solavancos do que de calmarias. Por isso, a luta pela estabilidade é uma batalha constante, prolongada e precisa ser travada a cada novo percalço. É o que estamos atravessando, mais uma vez, neste momento histórico.

Nesta quinta-feira, 11 de agosto, a sociedade brasileira está unida em torno da defesa da nossa democracia, do Estado de Direito, das instituições, da nossa Constituição e do respeito às leis. É mais um episódio da longa jornada de lutas por avanços civilizatórios, pela conquista de liberdades, pelo convívio harmônico e pela tolerância entre as brasileiras e os brasileiros.

Estou onde sempre estive: do lado da nossa democracia, das instituições e da cidadania. Porque só assim os direitos individuais são respeitados e garantidos e os deveres podem ser exigidos de todos de maneira impessoal, equilibrada e justa. Essa tem sido, aliás, a tônica de toda a minha vida pública.

Assim foi quando, em meio ao período conturbado que levou ao golpe de 1964, presidi a União Nacional dos Estudantes (UNE), primeira atividade política que desempenhei. Veio a ditadura e, para evitar a repressão truculenta, me exilei no Chile, onde obtive o mestrado em Economia e trabalhei na universidade e em organismos internacionais. Anos depois, em meio à perseguição de um novo golpe de Estado naquele país, fui viver, estudar e trabalhar nos Estados Unidos, em Ithaca (Cornell University, onde obtive o doutorado em Economia) e em Princeton.

No exterior, concluí e afirmei minha formação acadêmica, sempre tendo em vista o enfrentamento e a busca de respostas para os problemas, os atrasos e as dificuldades, sobretudo sociais e econômicas, que o nosso país enfrentava – muitos dos quais, lamentavelmente, ainda enfrenta. Com a anistia política, retornei ao Brasil e iniciei minha longa trajetória de dedicação à vida pública.

Fui secretário de Estado, deputado federal constituinte, senador da República, ministro do Planejamento e da Saúde, prefeito da minha cidade (São Paulo), governador do meu Estado e, novamente, em 2014, voltei ao Senado Federal para mais uma vez representar, com orgulho e responsabilidade, a população de São Paulo. Em todos esses períodos e mandatos, orientei a minha atuação em favor do interesse coletivo, da justiça social e, sobretudo, da defesa das liberdades, do desenvolvimento, da democracia, das instituições e da população mais pobre, evitando engajar-me nas correntes populistas.

Em diferentes momentos, em diferentes esferas, consegui promover avanços e melhorar a vida das pessoas. Foram muitas batalhas, todas bastante árduas, enfrentadas sempre com coragem para superar interesses contrários e poderosos. Foi assim, por exemplo, com os genéricos, que em 23 anos permitiram aos brasileiros tratar melhor a saúde e economizar R$ 213 bilhões com a compra de medicamentos. Sem mencionar a instituição do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e do seguro-desemprego.

Lideramos a batalha mundial pela quebra de patentes na Organização Mundial do Comércio para ampliar o tratamento de aids. A luta contra a indústria do tabaco, que resultou numa das mais bem-sucedidas e expressivas reduções desse maldito vício entre todas as populações do mundo. Assim foi, também, nos avanços sociais que conquistamos tanto no município quanto no Estado de São Paulo. No Senado, fui o senador com maior número de projetos transformados em lei. A luta por justiça, sobretudo a justiça social, me move.

Vivemos, agora, mais um destes momentos históricos em que é preciso se organizar para impedir retrocessos, para assegurar direitos e defender o Estado democrático. Foi assim quando lutamos pela volta das eleições diretas e pela redemocratização, em 1985, e vencemos. Foi assim quando fizemos uma nova Constituição cidadã, em 1988. Foi assim quando chegamos ao governo federal, sob a liderança do presidente Fernando Henrique Cardoso: derrotamos a hiperinflação, modernizamos o País e promovemos avanços sociais que perduram até hoje.

Desde então, têm sido anos difíceis. Anos de ameaças de retrocessos institucionais, de degradação ética, de irresponsabilidades no trato do dinheiro público. De instabilidades e de semiparalisia econômica. Começou com os governos do PT e persiste com os descalabros da atual gestão sob a presidência de Jair Bolsonaro. Por isso, mais uma vez, a sociedade brasileira se une e se insurge em defesa do País. Uma vez mais.

Com a publicação desta coluna de hoje, suspendo mais um dos períodos de colaboração com o Estadão, iniciado em janeiro de 2015. Neste espaço democrático, num jornal que, em seu quase um século e meio de existência, sempre defendeu com vigor as liberdades e abriu oportunidade para manifestações de todos os tipos de visões e opiniões, a história do Brasil também vem sendo escrita e construída.

Despeço-me até as eleições de outubro próximo. Espero poder escrever mais alguns capítulos desta longa trajetória a favor do Brasil e dos brasileiros. Meu compromisso com a democracia e com o País é o compromisso de toda uma vida. E assim continuará sendo.

*SENADOR (PSDB-SP)