Discurso do ministro José Serra por ocasião da cerimônia de condecoração de autoridades da Colômbia com a Ordem de Rio Branco

Brasília, 16 de Dezembro de 2016

Queria dar meu boa tarde a todas e a todas,
Cumprimentar o Presidente da República, Michel Temer,
O embaixador da Colômbia do Brasil, Alejandro Borda Rojas,
O ministro de Estado da Defesa, Raul Jungmann, em nome do qual cumprimento os demais colegas ministros de Estado aqui presentes;
Quero também saudar o nosso embaixador na Colômbia, Julio Bitelli,
O prefeito de Chapecó, Luciano Buligon, em nome de quem cumprimento os cidadãos brasileiros hoje agraciados,
E o prefeito de Medellín, Federico Gutiérrez Zuloaga, em nome do qual cumprimento os cidadãos colombianos hoje agraciados.
O grande escritor colombiano Gabriel García Márquez, um dos maiores escritores do mundo – eu não sou tão velho assim, mas li García Márquez pela primeira vez no final dos anos 60, ele é um escritor extraordinário –, ele afirmou: “o amor se faz maior e mais nobre na calamidade”. Ele tinha toda razão a esse respeito.
Nós tivemos nas últimas semanas uma demonstração de quão verdadeiro é esse pensamento. Foi em meio à tragédia do voo da Chapecoense que a solidariedade e a compaixão do povo colombiano emocionaram a todos nós brasileiros, inclusive a este que vos fala.
Muitos dos que prestaram a primeira assistência às vítimas eram voluntários. Ao lado dos socorristas e autoridades, não hesitaram em ajudar o próximo e estender a mão amiga e providencial aos sobreviventes. Foi o caso do jovem Johan Alexis Ramírez de Castro, aqui presente, que conduziu as primeiras equipes de resgate ao local do desastre. Ao condecorá-lo, a ele e a todos, com a Ordem de Rio Branco, expressamos nosso agradecimento à generosidade de todos os que, nas circunstâncias mais difíceis e arriscadas, estiveram no local da queda já nos primeiros momentos.
Muitas vidas – sabemos todos, choramos por elas – foram perdidas: de jovens que buscavam realizar seus sonhos, de profissionais que seguiam na viagem mais importante da história da Chapecoense, um clube que se tornava grande nos campos e fora dele, um clube verde e branco. Verde significa esperança, branco significa paz – um clube de esperança e de paz.
Em meio a essa dor, nós testemunhamos, e o prefeito de Chapecó já registrou isso publicamente, as comoventes manifestações de solidariedade logo em nossa chegada a Medellín. Dos taxistas aos funcionários, dos dirigentes aos torcedores do Atlético Nacional – ele também verde e branco –, dos militares aos jornalistas. E da prefeitura de Medellín e do governo de Antióquia, aqui tão bem representados.
São todas essas pessoas que nós queremos homenagear hoje, com a mais sincera e profunda gratidão.
A emoção que eu vivi durante a cerimônia no estádio Atanásio Girardot nasceu não apenas de um imenso sentimento de perda, mas também da maior manifestação de fraternidade que testemunhei em toda a minha vida.
A disputa que ocorria num campo de futebol, ou que deveria ocorrer, entre o Chapecoense e o Atlético Nacional, não pôde materializar-se. Cedeu lugar a uma cerimônia tributária dos melhores sentimentos da humanidade, naquele momento encarnados no povo colombiano. Foi uma das maiores demonstrações de fraternidade que qualquer um de nós pode ou deve ter testemunhado.
Não somos mais apenas vizinhos, e isso é muito importante que se diga. Somos, mais do que nunca, dois povos que se reconhecem pela amizade, pelo respeito, pelo afeto. Como dizia uma das faixas das torcidas no estádio: “uma nova família nasce”.
O gesto de desprendimento do Atlético Nacional e de sua torcida, ao oferecer o título da Copa Sul-Americana à Chapecoense, jamais será esquecido. Faz jus às melhores tradições do clube “verdolaga” e à generosidade do povo colombiano.
A Chapecoense é hoje campeã, o primeiro título internacional de um clube pequeno, que sonhava e vai continuar sonhando alto. Mas dividimos esta honraria com o Atlético Nacional, com a cidade de Medellín e com o povo de Antióquia e da Colômbia.
Quero então mais uma vez agradecer a todos os senhores aqui condecorados. Ao governador de Antióquia, Luís Emilio Pérez Gutiérrez, ao prefeito de Medellín, Federico Gutiérrez, pela liderança demonstrada nesse difícil momento, pela eficiência com que conduziram as ações de resgate e de apoio às vítimas, e pelas inúmeras demonstrações de espírito público num momento tão difícil e penoso.
À secretária de governo de Antióquia, Victoria Eugenia Ramírez, ao Diretor-Executivo da Agência de Cooperação de Medellín e Área Metropolitana, Sergio Escobar Solórzano, e ao Subsecretário de Planejamento de Segurança da Prefeitura de Medellín, Camilo Arango, por toda a dedicação na assistência às vítimas, às suas famílias e a todos os que se deslocaram a Medellín em meio à tragédia. E à jornalista Mónica Patricia Jaramillo, agradeço muito particularmente a bela e emotiva condução da cerimônia no estádio Atanásio Girardot, inclusive em alguns momentos ao meu lado. Você tornou-se inesquecível, Mónica, para todos os brasileiros.
A imposição da insígnia da Ordem de Rio Branco é um pequeno gesto que não se equipara ao apoio e consolo que recebemos dos senhores. Esta cerimônia é apenas uma pequena oportunidade para que possamos, em nome de Chapecó e de todos os brasileiros, externar o nosso reconhecimento.
Estendo também meus cumprimentos ao Ministro de Defesa Nacional da Colômbia, Luis Carlos Villegas, em cujo nome saúdo todos os agraciados com a Ordem do Mérito da Defesa.
O apoio dos colombianos permitiu que, dessa imensa tragédia, pudéssemos guardar a lembrança de um grande gesto da humanidade que alentou todo o Brasil.
Não esqueceremos jamais o que perdemos, mas tampouco esqueceremos os que compartilharam nossa dor. Nas palavras de Dom Paulo Evaristo Arns, um grande cardeal da Igreja Católica, nosso amigo pessoal, que ontem, infelizmente, também nos deixou, ele dizia: “a fase da dor e do sofrimento serve para testar os verdadeiros amigos”.
Mais uma vez, muito obrigado, Medellín. Muito obrigado aos verdadeiros amigos da Colômbia.
Viva Colômbia!