Revista Veja, 19 de junho de 2013

No dia 13 de outubro de 1945, o New York Times publicava na primeira página uma foto do general alemão Anton Dostler, condenado à morte por uma Comissão Militar dos EUA na Itália. Ele era acusado de ter ordenado a morte de 15 prisioneiros americanos durante a ocupação nazista do território italiano. A seu lado, aparece um jovem com o uniforme do exército americano que lhe serve de intérprete: trata-se do judeu Albert Otto Hirschman. Aos 30 anos, a atuação nas forças regulares dos EUA era a sua quinta frente de luta contra o nazi-fascismo. Foi Hirschman quem verteu para o alemão a sentença.

Aquele então jovem soldado — que veio a morrer no dia 12 de dezembro do ano passado, aos 97 anos — se tornaria um dos mais originais e lúcidos pensadores do século 20. O rapaz que estava ao lado do brucutu nazista cuidara de sua formação intelectual de forma intensa mesmo em tempos obscuros. Com a chegada de Hitler ao poder, em 1933, teve de abandonar a Friedrich-Wilhel-ms-Universität (hoje Humboldt-Universität zu Berlin), onde ingressara um ano antes, aos 17 anos. Cursou economia numa Grand École, na França, e na London School of Economics, na Inglaterra. Em 1936, com o antifascismo na alma, foi à Espanha lutar ao lado dos republicanos na guerra civil. Da Catalunha, migrou para a Itália, onde concluiu sua pós-graduação em economia ao mesmo tempo em que militava contra Mussolini. Na iminência de ser preso, voltou para a França, em meados de 1938, trabalhando como pesquisador especializado em economia italiana. Quando explodiu a segunda Grande Guerra, não teve dúvida: alistou-se no exército francês para combater as tropas de Hitler.

Por que alguém como ele, tão precocemente vocacionado para a vida intelectual, vai à guerra? A resposta não é simples. Hirschman era judeu, e isso é motivo mais do que suficiente para alguém combater o nazi-fascismo. Hirschman era um humanista, e isso também fornece motivos de sobra. Mas talvez houvesse mais do que motivações de natureza existencial, intelectual e moral.

Na década dos 70, depois de concluir meu doutorado na universidade de Cornell, convivi com ele durante dois anos no Institute for Advanced Study de Princeton. Ele como integrante permanente da escola de Ciência Social, eu como membro visitante. Muitos anos depois, em 2003, passei outro ano no Institute, convidado para fazer algumas palestras. Também ao seu lado. Hirschman foi à guerra, convenci-me, porque, adicionalmente, tinha horror visceral, pessoal, à estupidez, ao autoritarismo e à injustiça. O homem de ação era o complemento necessário do estudioso.

O intelectual Hirschman transitava com desenvoltura pelos grandes sistemas filosóficos, podendo discorrer sobre eles com a clareza de quem leu os clássicos, mas era avesso a adotar ou a criar paradigmas e modelos, dedicando-se a questionar as premissas dos já existentes, suas conclusões e recomendações implícitas. Era capaz de enxergar na ocorrência restrita a evidência de que movimentos maiores se davam em camadas mais profundas da sociedade e da psique humana. E isso não o conduzia à perplexidade ou ao imobilismo, mas à pesquisa e à ação.

Hirschman conseguia ser adoravelmente cético sobre as virtudes de cada homem — não me parece que tenha chegado, em algum momento, a acreditar numa essência humana benigna —, mas era um otimista quanto às possibilidade de agir para melhorar a vida das pessoas. Entendia que a história tem condicionantes e que os eventos não se dão no vazio, mas não se surpreendia com as extravagâncias. Heterodoxo, em larga medida, é o mundo. Complexas são a sociedade e a natureza humana.

Publicou catorze livros, os primeiros voltados à economia do desenvolvimento, nos quais já se entrevia seu talento para ampliar o campo da análise econômica, incursionando livremente na política, na filosofia e na psicologia social. Essa capacidade de ultrapassar as fronteiras de diferentes áreas do conhecimento se realizou plenamente nos livros que publicou nos anos 1970 e 1980. O conjunto da sua obra conta com cinco pilares principais sobre os quais se constrói seu edifício teórico, cuja arquitetura não pode ser resumida ou banalizada com um rótulo. Assim, um panorama seguro do seu pensamento pode ser dado por “Estratégia do Desenvolvimento Econômico”, “Exit Voice and Loyalty”, “Paixões e Interesses”, “A Retórica da Intransigência” e “Shifting Involvements – Private Interest and Public Action”.

Mas, afinal de contas, o que o tornava tão especial? Hirschman não tinha um pensamento facilmente categorizável, que pudesse ser capturado num verbete numa definição que sirva aos manuais e às enciclopédias instantâneas da era virtual. Essa é a razão que a Economist, no seu obituário longo e elogioso, invocou para explicar por que ele não recebeu o Prêmio Nobel de economia, “tão merecido”, segundo a revista. Os que escreveram sobre o autor foram unânimes: a leitura de sua obra muda a maneira de abordar as políticas públicas, o desenvolvimento, a sociedade, o comportamento humano e a política propriamente. Ele cria conceitos, entrelaça-os de forma surpreendente e nos incita à inteligência, à pesquisa e ao ativismo na vida pública.

Hirschman, ao pensar, não prestava tributos a altares de nenhuma ortodoxia. Ao contrário: parecia vocacionado para o dissenso e ocupado em demonstrar que a realidade insiste em desafiar a teoria. Por isso alguns de seus críticos também já o viram como um poderoso desorganizador de sistemas de pensamento, como o não construtor de um alternativo. Mas ele nunca se propôs a isso, embora tenha avançado mais do que ninguém no campo rarefeito de uma ciência social unificada. Este homem singular, dotado de uma cultura enciclopédica, notável por sua vida, admirável por seu pensamento e por sua ação, está magnificamente retratado na biografia “Wordly Philosopher – The Odyssey of Albert O. Hirschman”, do historiador Jeremy Adelman, de Princeton, ainda sem tradução para o português.

POSSIBILISMO – Faz-se necessário escolher uma palavra para que nos aproximemos de sua grande obra. Essa palavra, de sonoridade um tanto estranha, inencontrável em nossos dicionários, mas presente no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, é “possibilismo”. É isto: Hirschman, na economia e na vida, rebelou-se contra a máxima, então consagrada à direita, ao centro e à esquerda, de que “a política é a arte do possível”, primado que, vamos convir, pode servir para qualquer coisa, em sua aparente profundidade fatalista, que se quer passar por realismo superior.

É certo que as fronteiras da realidade, por definição, são inelásticas. A questão é de outra natureza. O que se considera possível, com alguma frequência, em ciências humanas, não pertence à natureza das coisas, mas à nossa natureza — ou, mais precisamente, à nossa cultura e, obviamente, à nossa ignorância. Alargar as fronteiras do possível, para Hirschman, correspondia a abandonar os próprios preconceitos, num esforço de humildade diante do mundo: era como se dissesse que não nos é lícito fazer a realidade caber em nossos projetos. A nossa tarefa é ampliar o que sabemos, descobrindo recursos adormecidos, racionalidades ocultas e variáveis que ignoramos. Então que se torne mais precisa a síntese, como gosta seu biógrafo Adelman, e se escolha a palavra justa: política é a arte de ampliar os limites conhecidos do possível. Ao indivíduo cabe somar conhecimento e obstinação — é a Virtù. E o bom leitor de Maquiavel sabia que também existem os fatores imponderáveis da sorte, a Fortuna.

É no livro “Estratégia do Desenvolvimento Econômico”, um pequeno clássico escrito em 1958, e nos três livros seguintes sobre o tema, que Hirschman põe o “possibilismo” a serviço do que eu chamaria de uma de ciência ativa, que não existe apenas para justificar os saberes e preconceitos consagrados. neles, o autor esbanja sabedoria não convencional. Para o desenvolvimento, diz, não basta determinação. É preciso saber o que é necessário ser feito. “O desenvolvimento depende menos de encontrar combinações ótimas dos fatores de produção dados do que de arregimentar recursos e capacidades que estão ocultos, dispersos ou mal utilizados, pondo-os em ação”. Nesse caso, dizia, a liderança política é que faz a diferença. É ela que amplia as fronteiras do que se conhece como possível.

Para Hirschman — e que falta faz a leitura de sua obra a muitos dos políticos e líderes contemporâneos, não só do Brasil! —, o desenvolvimento é, por natureza, um processo desequilibrado. É impossível fazer tudo ao mesmo tempo e de forma balanceada, fixando-se pré-requisitos simultâneos como capacidade empresarial, poupança, educação, burocracia pública, estrutura fundiária, instituições… O fracasso de um projeto assim é certo. Esse foi, durante um largo período, o diagnóstico equivocado que orientou políticas contra o “círculo vicioso da pobreza” mundo afora. Dava-se como certo que esse círculo só poderia ser rompido pelo cumprimento daquelas precondições e um abrangente planejamento quantitativo e centralizado nas mãos do estado. Era o que prescreviam organizações internacionais, como o Banco Mundial, no pós-Guerra.

Hirschman foi o principal crítico dessa estratégia, que, como previu, não foi bem-sucedida em lugar nenhum. Ele notou que o processo de desenvolvimento, nos estágios iniciais, é sequencial, não concomitante. Criou o conceito de linkages — encadeamentos para trás e para a frente — dos investimentos. na sua visão, eles geram demandas novas, criam gargalos, atiçam o espírito animal dos empresários e exigem novas políticas públicas.

O possibilista Hirschman, em suma, dava ênfase à “descoberta de caminhos que, mesmo estreitos, conduzem a resultados que seriam considerados impossíveis por um raciocínio baseado apenas na probabilidade”.

Ora, o que move o mundo? O lamento crítico e impotente diante da ausência das condições ótimas para produzir ou encontrar formas de ativar a produção? nessa perspectiva, Hirschman consideraria, por exemplo, que o principal obstáculo ao desenvolvimento não é a oferta de capital mas a falta de habilidade para investir e mobilizar recursos ociosos ou mal aproveitados. Por que não procurar, à moda Adam Smith, racionalidades ocultas? Por que não buscar recursos adormecidos, encarar sequências invertidas, anômalas, ou fora da curva, para descobrir novos caminhos, saídas para construir um futuro diferente? Por que descartar que o próprio circulo virtuoso do desenvolvimento possa criar ou melhorar instituições tantas vezes apresentadas como pré-requisitos?

Para Hirschman, as estratégias irrealistas alimentavam o pessimismo e o derrotismo. resultavam no que ele denominou de “fracassomania” latino-americana, termo frequentemente mal compreendido. A palavra não designava o fracasso em si, mas a incapacidade de perceber mudanças estruturais que estão em curso e que deram e dão certo!

Lembro-me do incentivo que recebi dele nos anos 1970, em Princeton, quando escrevi criticamente sobre as teses que propugnavam para a América Latina um de dois destinos: socialismo ou fascismo. Ainda que muitos pensadores de esquerda caíssem nessa armadilha teórica, a tese acabava contribuindo para justificar as ditaduras no continente. Elas se baseavam numa suposta necessidade da “acumulação de capital” nas economias da região, associadas às dificuldades do aprofundamento da industrialização baseada na substituição de importações. Ou seja, ou fazíamos a revolução socialista ou estávamos roubados. Nada mais catastrofista, dizia hirschman, ao mostrar que, ao lado das interpretações econômicas mais puras, estavam fatores como ideologias, política, cultura e até personalidades. “Posso ser acusado de eclético. Mas isso não me incomoda. Prefiro ser eclético à ser reducionista”

SAÍDA, VOZ E LEALDADE – A mais bem sucedida fusão de política, economia e psicologia social que conheço num só volume está no texto mais conhecido de hirschman: “Exit, Voice and Loyalty”, de 1970, publicado no Brasil em 1973, sob o título “Saída, Voz e Lealdade”. O objetivo era ambicioso. Ele se propôs a analisar as “respostas ao declínio em empresas, estados-nação e organizações”, entendidas estas como os partidos políticos, as igrejas, as universidades, os serviços públicos… Tornou-se a trilogia mais citada das ciências sociais.

Até então, no plano da análise, predominava a relação entre o abandono e a lealdade passiva, fenômeno típico do modelo de concorrência. Hirschman mostrou que, em certas circunstâncias, a concorrência conforta o monopólio e a inércia. O que o levou ao livro foi a observação do sistema ferroviário na Nigéria. A ruindade do sistema provocava a migração dos usuários para os ônibus. Ocorre que a companhia de trens era estatal e não se importava: mantinha-se com subsídios fiscais e não se preocupava com a qualidade dos seus serviços. Mas a ideia não veio somente daí. Aquela trilogia teve um significado mais profundo para Hirschman. Judeus nascidos na Alemanha que escolheram a “lealdade” ao país e lá permaneceram durante o nazismo pagaram um preço elevado. O protesto de alguns dos que ficaram também não evitou o pior. A fuga, que ele, jovem estudante, escolheu, combinando-a com a resistência ferrenha desde fora, terminou sendo a decisão mais acertada, mas não foi um processo indolor, imune ao sofrimento e à culpa, como adelman mostra. No caso da reunificação alemã, “saída” e “protesto” se combinaram. No fim dos anos 1980, grande parte da população da alemanha oriental, até então amortecida pela lealdade, passou a exigir mudanças, invocando a ameaça da saída, o que deu à sua mobilização um vigor especial. Ou seja, ao contrário do óbvio no modelo concorrencial ou nos trens da Nigéria, a possibilidade da saída reforçou a capacidade do protesto, tornando-a decisiva.

A ideia de Hirschman retrata bem as crises da União Europeia, onde a potencial saída de qualquer um dos países membros reforça a eficácia do protesto diante das políticas econômicas adotadas, sob a hegemonia alem㠗 protesto, aliás, presente nas urnas, contra os governos que optam pela lealdade mais estrita. Por temer as consequências da saída de países-membros, a alemanha acaba se envolvendo em concessões que, de outra forma, não teriam lugar. Morto no ano passado, mas há mais de dez anos sem vida intelectual ativa, hirschman não chegou ver a Internet virar um poderoso instrumento de pressão social, sendo ocupada pela “voice”.

PRAZER E DECEPÇÃO – Hirschman analisou também os macrociclos entre a grande mobilização das pessoas em torno de uma questão pública e seu confinamento ao consumo privado. A passagem de um para o outro está relacionada ao desapontamento diante de conquistas e à procura da felicidade mediante o swing: “as pessoas pensam que querem uma coisa e, ao obtê-la, descobrem, consternadas, que elas não a queriam tanto quanto pensavam e que alguma coisa mais, da qual não têm uma consciência precisa, é o que elas realmente querem”. A passagem lembra Bernard Shaw a respeito de duas tragédias da vida: “uma é não obter o que o seu coração deseja. A outra é obter.”

Fernando Henrique Cardoso chamou Hirschman de “otimista cético”. É um achado feliz. Mas, apesar dos desapontamentos inevitáveis, ele era um entusiasta das ações coletivas e fulminou os modelos que procuravam analisar as mobilizações coletivas com base nas preferências racionais dos indivíduos. Notava que, com frequência, a simples participação em ações coletivas são moralmente gratificantes, independentemente do resultados.

Numa obra posterior, um verdadeiro manifesto contra a intransigência, ele identificou as três posturas essenciais do que chamou “retórica reacionária”: futilidade, perversidade e ameaça. Palavras conhecidas que viraram categorias férteis de análise. A primeira tende a considerar que, mais muda o mundo, mais ele se mostra a mesma coisa. Trata-se de uma espécie de ceticismo profissional, que colhe muitos dos homens públicos no Brasil. “O efeito perversidade” assegura que as mudanças sempre produzem efeitos contrários ao desejado. E o “efeito ameaça” aponta sempre para o risco da catástrofe.

Mas Hirschman estava longe de ser um mudancista irresponsável. Tratou com extrema severidade os que “atiram cautelas ao vento e desdenham não apenas da tradição, mas do pleno significado do conceito de efeitos não intencionais da ação humana”. “Sempre dispostos a moldar ou a remoldar a sociedade segundo sua vontade”, eles “não têm dúvida sobre sua habilidade para controlar eventos”. Não era gente que ele admirasse.

Citava como exemplo dessa forma de insanidade uma carta que o então presidente argentino, Juan Perón, enviou ao seu colega Carlos Ibañez, presidente do Chile: um verdadeiro monumento à irresponsabilidade:

Meu caro amigo:

Dê ao povo, especialmente aos trabalhadores, tudo o que é possível. Quando parecer a você que você já deu demais a eles, dê a eles mais. Você verá os resultados. Todos vão tratar de assustá-lo com o espectro de um colapso econômico. Mas tudo isso é mentira. Não há nada mais elástico do que a economia, que todo mundo teme tanto porque ninguém a compreende”

Outro dos grandes livros de Hirschman foi intitulado, de forma significativa, “A Bias for Hope” — “O Viés da Esperança”. Ele acreditava, sim, que “não há situação desesperadora sem nenhuma saída”. Sempre existe algum caminho oculto, que precisa ser encontrado, para facilitar a absorção do benefício do inesperado, do surgimento de “felizes e surpreendentes desvios do desastre”. Uma visão especialmente admirável quando se considera a sua história de vida.

Compartilhava com o filósofo polonês Leslek Kolakovski a ideia de que as mais simples melhorias sustentadas nas condições sociais requer um esforço tão grande da sociedade que a completa consciência dessa desproporção seria desencorajadora e tornaria o progresso social impossível. Daí seu conceito de “hidding hand” e seu respeito pelas utopias e por políticos capazes de mobilizar as energias da sociedade, indispensáveis para impulsionar o processo de mudanças.

Hirschman se concentrava no que era possível fazer. Depois da derrocada da França diante da Alemanha e desfeito o exército francês, que ele integrava, passou a viver clandestinamente em Marselha, sendo peça chave de um grupo que organizava a fuga de artistas e intelectuais judeus para as Américas. Dois mil homens e mulheres foram salvos nessa operação. Entre eles, Mark Chagall, Andre Breton, Daniel Bell, Marcel Duchamp e sua conterrânea Hanna Arendt, que estava refugiada em Paris. Descoberto, Hirschman escapou e fugiu para os EUA, instalando-se na Universidade de Berkeley. Com a entrada desse país na guerra, alistou-se no exército americano e foi para a África do Norte e a Europa. E isso nos devolve à tal foto que abre este artigo.

Depois da guerra, representou o Federal Reserve no Plano Marshall. Em seguida, assessorou o governo da Colômbia, a convite do Banco Mundial. Na América do Sul, o terceiro continente em que viveu em uma década, Hirschman reinventou-se: o tenaz resistente antifascista passaria a ser um dos grandes pensadores do desenvolvimento. Foi professor em Yale, Columbia e Harvard, até fixar-se em Princeton, onde viveu até o fim da sua vida venturosa, no dia 12 de dezembro do ano passado.

Muitas vezes fiquei a observar a foto em que Hirschman aparece ao lado daquele general nazista que representava as forças contra as quais ele lutou a vida inteira: a violência, o obscurantismo, a ignorância e o fanatismo. Terminada a guerra, conhecia de muito perto todo o bem e todo mal de que são capazes os homens de ação. Sabia, sim, que era necessário mudar o mundo. Mas a obra que deixa nos diz também que é preciso pensar o mundo. Hirschman tirou o uniforme para ser um soldado da clareza, do não-dogmatismo e da esperança.