Trechos do discurso feito na Convenção Nacional do PSDB, em Brasília, 18 de maio de 2013

Dias atrás, o ex-presidente Lula disse em Porto Alegre que nós, da oposição, não temos projeto para o Brasil. Ele está, obviamente, enganado.

Temos, sim, o projeto de tirar o Brasil da estagnação econômica que o petismo provocou. Sabemos como fazê-lo. Temos, sim, o projeto de defender a democracia brasileira da sanha autoritária do PT.

É por isso que apesar de espalharem que nós não somos de nada, morrem de medo de nós.

1. Após uma década no poder, está ficando cada vez mais claro: o PT se mostrou incapaz de construir uma economia que possa crescer de maneira sustentada.

Ao contrário, ao final do decênio petista, a realidade é outra: baixo investimento, obras cada vez mais lentas e mais caras, déficit externo crescente, subida da inflação, responsabilidade fiscal em risco, deterioração da infraestrutura, perda de competitividade, desindustrialização.

Hoje, graças aos governos do PT fincamos, firmes, os pés na posição de lanterninhas entre os chamados BRICS, as grandes economias emergentes.

Mas não é só a economia. Temos, sim, o projeto de tirar a saúde da paralisia de projetos.

Aí está a população toda reclamando, as Santas Casas agonizando, a União encolhendo sua participação nas despesas e despejando a angústia para estados e municípios.

Temos, sim, o projeto de retirar a educação do âmbito da conversa mole, que consome muito dinheiro e compromete o futuro das nossas crianças e dos nossos jovens.

2. O PSDB tem a missão de contribuir para aglutinar e organizar o conjunto das forças sociais e políticas da resistência democrática.

Após uma década no poder, o PT se julga em condições  de avançar no autoritarismo. Quer o financiamento público de campanhas eleitorais para dar ao partido do governo uma vantagem definitiva nas eleições futuras.

Quer submeter o Supremo Tribunal Federal à maioria governista do Congresso Nacional. Quer fechar o acesso dos novos partidos ao fundo partidário e ao tempo de rádio e televisão. Quer impedir o Ministério Público de investigar.

Quer esmagar os prefeitos e governadores que não rezarem pela sua cartilha. Quer calar a imprensa.

Temos, sim, o projeto de defender  a democracia, a liberdade, a independência dos poderes, e a decência na vida pública, transformada num verdadeiro mercado persa de favores e “malfeitos”.

O Estado brasileiro foi de fato capturado por grupos centrados no PT e privatizado em seu benefício. Os órgãos governamentais são tomados de assalto. É a pior privatização que poderia acontecer. Por isso mesmo um dos nossos grandes projetos será o de desprivatizar o Estado brasileiro.

Tivesse o PT oferecido soluções para os graves problemas estruturais do Brasil, poderia perfeitamente pleitear a continuidade num ambiente de disputa democrática.

Mas não! Como sabem que estão em dívida com o povo e o país, flertam com o autoritarismo, para não serem removidos do poder.

3. Temos a missão de construir e fortalecer a resistência a esse bloco antidemocrático, que representa vanguarda do atraso no Brasil.

Vamos aglutinar o máximo de forças capazes de resistir a esse projeto e derrotá-lo. Vamos buscar a convergência. Não apenas no PSDB, mas com todos que estejam dispostos a marchar na defesa da decência, da liberdade, do progresso e da justiça.

4. Quem não tem projeto para o Brasil é o PT. Jogaram no lixo – e isso até foi bom – o seu programa original e vagam pelo supermercado das ideias, catando-as a esmo, de gôndola em gôndola.

Das nossas, algumas foram aproveitadas, mas, pouco a pouco, desfiguradas. Basta se lembrar da perversão das agências reguladoras. Das privatizações atropeladas e incompetentes, eles que tanto as demonizaram. Aliás, algumas privatizações do PT matam, como comprovam as precárias estradas federais.

E as novas explorações do petróleo? Ficaram paradas durante cinco anos, e, no final, foram retomadas dentro do modelo de antes, do tempo do Fernando Henrique.

Temos um governo que, na verdade, transforma facilidades em dificuldades. Em vez de transformar dificuldades em soluções, o governo que aí está faz o contrário: transforma as soluções em problemas. Um governo que passou dois anos perplexo diante da herança recebida do governo Lula, e gasta seus outros dois anos fazendo campanha eleitoral.

5. Eu venho de longe, já vi muita água passar embaixo da ponte, no Brasil e fora dele. O golpe de 1964 me levou a ser condenado à prisão e ao exílio, aos 22 anos de idade. O golpe no Chile me tornou exilado ao quadrado.

As dificuldades as mais extremas nunca me assustaram. Não seriam as regras do regime democrático a me constranger. Lutarei, como sempre, com clareza, com lealdade, sem ambiguidades ou palavras de sentido impreciso. Porque esse é meu estilo.

Não tenho porta-vozes. Não tenho intermediários. Não tenho intérpretes. Quem quiser saber o que penso tem só uma fonte confiável: eu mesmo. E conto com lealdade recíproca.

Nas grandes decisões que já tomei na vida pública, nunca pus, não ponho e não porei as paixões à frente da razão. Com os olhos em 2014 e no futuro do Brasil, continuarei a atuar em favor da unidade das oposições e de quantos entendam que é chegada a hora de dar um basta à incompetência orgulhosa.

6. Partidos, muitas vezes, buscam eleitores. Hoje, há milhões de eleitores em busca de um partido, ou de partidos, que possam vocalizar os seus anseios por justiça social, sim, mas também por decência e vergonha na cara. Porque essas coisas não são incompatíveis.

Os que estamos aqui hoje, estaremos, com absoluta certeza, do mesmo lado em 2014. Os que estão aqui, afinal, escolheram um lado:

– o lado da justiça social com crescimento, porque a justiça social sem crescimento significa democratização da pobreza. E nós precisamos é democratizar a riqueza.

– o lado da justiça social com democracia, porque a justiça social sem democracia é só uma fraude política que tenta criar uma ditadura virtuosa, e isso não existe.

– o lado da justiça social com estado de direito, porque a justiça social sem o estado de direito é só a guerra de todos contra todos.