Achei a decisão do Banco Central de diminuir os juros em 0,5 ponto percentual correta. Os juros futuros estavam caindo, a pressão das commodities sobre a inflação, diminuindo em razão da crise internacional, e a economia desacelerando. Não vejo nenhum problema especial quanto à da taxa de credibilidade do Banco Central. Quer dizer que um BC só ganha credibilidade, ou a mantém, quando promove o aumento dos juros?

 

Em relação à inflação, vale a pena lembrar que o efeito do aumento dos juros se dá menos por eventual aperto da demanda, que é pequeno, do que pela sobrevalorização do real, pois os juros em elevação estimulam ainda mais o afluxo de dólares que inunda nossa economia. A chave da estratégia brasileira de controle da inflação nos últimos anos tem sido a valorização do câmbio, não a contenção da demanda.

 

Não se deve também ignorar o impacto dos juros no gasto público: neste ano, se a taxa permanecer em 12%, o gasto com pagamento de juros será de R$ 226 bilhões, contra R$ 195 bilhões no ano passado. Nesse item, como proporção do PIB, gastamos mais do que o Japão, cuja dívida é quatro ou cinco vezes maior do que a brasileira.

 

Não vejo maior problema no fato do ministro da Fazenda e da presidente da República conversarem com o BC e expressarem seu pensamento. Isso acontece em todos os países do mundo. Alguém acha que nos Estados Unidos ou no Chile é muito diferente? Por um acaso um presidente ou ministro são cassados quando se trata de expressar a sua opinião sobre juros? Isso é uma tolice. Expressar uma posição não significa impor uma decisão tecnicamente injustificável.

 

A decisão de baixar os juros teve sentido técnico. Outra coisa, diferente, é acharem que não faz sentido em razão de expectativas (de que os juros não se alterariam) que foram contrariadas. Será que o BC deveria tomar uma decisão contra as evidências só para afirmar sua autonomia? Aliás, vejam bem, a redução dos juros é de 0,5 ponto percentual numa taxa que era de 12,5%, ou seja, vinte e cinco avos dessa taxa. Literalmente, trata-se de muito barulho por quase nada.

 

Por último, é claro que o anúncio do aumento do superávit primário em R$ 10 bilhões foi feito para acalmar o “mercado” em relação à diminuição dos juros, que já devia estar programada. Aquele aumento é perfumaria, até porque não provém de cortes, mas de aumento de receita, e é pequeno diante do aumento das despesas do governo com juros da dívida pública, que será de pelo menos R$ 30 bilhões neste ano em relação ao ano passado.