* Texto escrito por José Serra para o livro A miséria da política: Crônicas do lulopetismo e outros escritos, de Fernando Henrique Cardoso.

Todos conhecem Fernando Henrique Cardoso. Cada livro dele traz uma contribuição relevante para o pensamento político e para a política real; suas ideias estão presentes dia a dia nos jornais, revistas, rádios e TVs. Sua presença moral e intelectual tem influenciado a opinião pública e as lideranças nacionais nos últimos quarenta anos, desde os anos de chumbo da ditadura militar.

Missão quase impossível, portanto, a de recomendar, de modo original, a leitura de um livro dele. Para mim, pessoalmente, expressar objetividade exige certo esforço, uma vez que há muitas décadas tenho convivido de perto com o autor, como companheiro de exílio, aluno, coautor, colega de partido, colaborador de seu governo e, acima de tudo, como amigo.

Em cada artigo, em casa análise, em cada julgamento moral, em cada rumo que traça para os que nele se inspiram, Fernando Henrique não abandona em momento algum a coerência de princípios, o rigor da análise e a referência ao bem público como objetivo maior. O intelectual, no autor, faz da capacidade analítica uma barreira contra o “realismo” oportunista; enquanto o político, nele, combate o voluntarismo com a força da realidade.

O leitor ficará surpreso ao vê-lo identificar-se, sobretudo, como político, e não como homem de ciência – dicotomia, atribuída a Max Weber, que não lhe cabe. Além da façanha invejável de ser referência internacional na Sociologia do Desenvolvimento e na Economia Política por seus escritos enquanto integrava a CEPAL-ILPES nos anos 1960, no Chile, aos olhos de seus contemporâneos seu maior feito é ter se tornado a principal referência da política nacional de 1993 a nossos dias. Desde então o âmago da política brasileira se organiza em função do seu legado como governante e como pensador político: entre os que lutam para preservar esse legado e os que querem destruí-lo. Estes últimos cada vez menos numerosos e com menos apoio.

Se você quiser saber o porquê disso tudo, não deixe de ler A miséria da política.