Todos podemos praticar ações que salvam vidas e interrompem a loteria perversa da covid-19

José Serra, O Estado de S.Paulo
25 de março de 2021 | 03h00

Estamos no fim de março de 2021, no pior momento da crise sanitária da covid-19, com o sistema de saúde, público e privado, em colapso em todo o Brasil. Milhares de famílias se enlutam diariamente e os que sobrevivem temem pela incerteza de encontrar leitos para eventual tratamento. E mesmo encontrando leito, não encontrar as medicações básicas necessárias.

Estamos sofrendo uma tragédia que somente pode ser mitigada quebrando o contágio exponencial do novo coronavírus. Já deveríamos ter impedido que se chegasse a este ponto de colapso, mas sempre há tempo para fazer a coisa certa.

Quanto maior o número de contágios, maiores serão as possibilidades de desenvolvermos novas variantes do vírus. O Brasil tem clima úmido e temperado, com fauna silvestre em contato com o homem, ambiente propício ao surgimento de variantes, como a de Manaus.

A evolução viral normalmente encontra três possíveis equilíbrios, todos com repercussões e impactos próprios. Existem vírus altamente contagiosos, porém brandos, que induzem rapidamente a imunidade de rebanho, extinguindo o surto. A maioria das gripes toma esse curso e o próprio coronavírus, originalmente, parecia ter essa característica.

Existem também aqueles vírus, como o ebola, com elevadíssima taxa de velocidade e mortalidade, que culminam com o pronto isolamento e morte dos infectados e também levam rapidamente ao fim do surto.

O terceiro grupo é o daqueles com transmissão mais lenta e efeitos mais prolongados, que se tornam endêmicos, alastrando-se de forma sustentada, como foi o caso do HIV-aids.

Corremos o risco de disseminação de variantes dos três tipos de uma só vez, comprometendo a eficiência de vacinas e de ações de controle. Esse risco precisa ser evitado interrompendo, urgentemente, a propagação e diferenciação do vírus.

Infelizmente, as vacinas já não representam a única solução para o Brasil, uma vez que não as teremos em quantidade e velocidade suficientes para conter a tempo a progressão geométrica do contágio. O que vale também para a expectativa de atingir imunidade suficiente para que o presente surto possa extinguir-se por conta própria.

Temos de usar as vacinas à disposição com máxima inteligência. Temos de ir além de segmentar por idade e com equidade entre as regiões, dando prioridade, ao contrário, às principais comorbidades, às concentrações de idosos e ainda aos locais com maior densidade populacional ou taxa de contágio.

Precisamos de informações claras e precisas com relação à doença e ao seu contágio, realizar periodicamente amplos testes, por amostragem e com questionários suficientes para localizar com precisão os mais afetados. Precisamos conhecer a proporção de pessoas já infectadas e onde elas se encontram, bem como o índice de imunidade, a taxa de contágio, o índice de distanciamento, a prevalência de comorbidades e os outros riscos.

Além do processo ativo de testagem e pesquisa de campo, temos ainda de empregar todos os recursos de inteligência e de utilização eficaz de grandes bases de dados disponíveis, tanto públicas como privadas. Tudo isso para dispormos de um quadro claro dos índices de distanciamento e de mobilidade a fim atuarmos promovendo campanhas ativas de conscientização, imunização, testagem, rastreio e isolamento.

A solução definitiva é coletiva. Independe de credo, de orientação política, cor, idade, situação de saúde e financeira ou mesmo de crença na efetividade de medicamentos ou vacinas, o fato é que compartilhamos a mesma comunidade, os seus espaços físicos e, especialmente, o mesmo sistema de saúde. Temos de nos ajudar, solidariedade é a palavra.

Usar máscaras adequadas e de forma correta é a ação fundamental para proteger a si mesmo e ao próximo, um ato solidário e de compaixão. Precisamos de inventos e soluções para máscaras reutilizáveis após higienização, e a baixo custo, para que toda a população se possa proteger.

As máscaras N95 e PFF2 são consideradas ideais, mas sabemos que duas camadas de máscaras, sendo a interna de material equivalente à de máscaras comuns e a externa com material que fique bem aderente ao rosto, sem orifícios, também protegem o suficiente. E todas podem ser higienizadas e reutilizadas depois de algum tempo. Temos de aprimorar e disseminar essa informação.

Por fim, se você puder ficar em casa, fique. Se tiver de sair, use máscaras adequadas e da forma mais correta possível, mantendo a higiene das mãos e sem tocar no rosto. Se puder evitar locais cheios, evite. Se estiver em situação de aglomeração, busque os espaços abertos e alerte as pessoas ao redor para se distanciarem. E se isso não for possível, fique por pouco tempo.

Todos podemos praticar estas ações que salvam vidas e interrompem o contágio exponencial e a loteria perversa desse mal.

E todos também podemos praticar a solidariedade pelo bem comum.
SENADOR (PSDB-SP)