Em entrevista ao Globo, o senador lembra dos desafios enfrentados pelo Ministério da Saúde para o controle da Aids quando ele foi titular da pasta e compara as dificuldades enfrentadas agora no combate ao coronavírus.
SÃO PAULO – Há 20 anos o Brasil buscava solução para uma outra epidemia mundial: a Aids. No cargo de ministro da Saúde estava o hoje senador José Serra (PSDB-SP). Aos 78 anos, ele faz parte do grupo de risco do novo coronavírus e está em isolamento social. Serra é uma das vozes que se levanta no Senado em defesa do distanciamento social como única alternativa para reduzir os impactos da pandemia na saúde e na economia.
– Se perdermos vidas, as pessoas ficarão com mais medo e reclusas. Se tivermos colapso da saúde, vão se isolar de forma voluntária e descoordenada. Não há dilema – disse, em entrevista ao Globo.

Por causa do isolamento social, o senador respondeu por email perguntas encaminhadas pela reportagem. Na entrevista, ele lembra dos desafios enfrentados pelo Ministério da Saúde para o controle da Aids e destaca o apoio que teve do presidente da República para as decisões mais difíceis, entre elas, a briga com a indústria farmacêutica internacional para a quebra da patente de medicamentos para o tratamento da doença.

Serra elogiou a gestão do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta no governo Jair Bolsonaro mas cobrou celeridade em algumas ações do ministério como a distribuição de testes e materiais de proteção aos profissionais de saúde. A entrevista foi feita um dia antes do novo titular do ministério, Nelson Teich, tomar posse.

O senhor foi ministro da Saúde num outro momento delicado da saúde no Brasil que foi o enfrentamento à epidemia da Aids. Há semelhanças entre as dificuldades da pasta hoje no combate ao novo coronavírus e aquelas de 20 anos atrás?

O enfrentamento à Aids foi um episódio que trouxe uma reviravolta no sistema de saúde do Brasil. Foi preciso pulso forte e bater de frente com o lobby e os interesses comerciais da indústria farmacêutica internacional para a quebra de patentes. A luta não se restringiu à prevenção da transmissão da doença. Fomos também em busca de tratamento. Surgiu um coquetel a ser ministrado aos infectados, além dos medicamentos genéricos. Isso foi fundamental para a queda do número de mortes e provocou mudança radical no mercado de medicamentos no Brasil. Foi uma batalha difícil, mas diferente do que vivenciamos hoje. Agora a pandemia afetou diretamente a rotina mundial. De repente, nações ricas e pobres se viram dominadas por um inimigo desconhecido e invisível, com consequências nefastas e sem controle, tanto do ponto de vista da saúde quanto da economia.